sábado, 7 de fevereiro de 2009

Para pedagogos, baixo salário e desprestígio explicam porque país não está formando professores

Coordenadora da Faculdade de Educação da Unicamp e especialista em condições de trabalho e formação de professores, Maria Márcia Malavasi diz que uma conjunção de fatores como "desprestígio", "falta de respeito social" e "baixos salários" contribui para o declínio da carreira e a baixa procura pelos cursos de magistério.

"Isso afeta a autoestima do professor e a confiança nele mesmo. Há também a questão salarial, as pessoas precisam viver e desejam outro padrão que possibilite, no mínimo, condições dignas de vida. Os salários hoje estão incompatíveis com a carreira e com as responsabilidades que eles precisam ter", avalia a coordenadora.

Segundo diz, "isso se reflete da pior maneira possível" nos alunos. "Um professor que não acredita na sua profissão passa ao aluno esse descrédito. E como um aluno vai respeitar um professor que não tem respeito pela própria profissão? Como um aluno vai desejar uma carreira igual?", questiona.

Para João Cardoso Palma Filho, professor titular de política educacional da Unesp e vice-presidente do Conselho Estadual de Educação, não só o salário contribui para a baixa procura, "embora seja uma coisa determinante", mas "a falta de estímulos para a profissão".

"Professor não tem mais o status que tinha. E é um ciclo vicioso. Recrutam-se professores no ensino médio que tiverem má-formação. Nas escolas de ponta, só 2% ou 3% declaram que vão prestar vestibular para ser professor. Os que vão para cursos como física ou química querem ser pesquisadores", diz Palma Filho.

No mercado, as escolas dizem que é difícil contratar professores e que cada vez mais se encontram menos formados por boas escolas de educação.

"Está difícil mesmo e não é de agora. Houve uma desmotivação como um todo. Um dos motivos principais é a desvalorização da carreira do magistério", diz Pedro Fregoneze, diretor do Colégio Bandeirantes.

Lá, a alternativa foi contratar ex-alunos como monitores e formá-los para um futuro magistério. "Eles assistem às aulas com os principais professores e vão sendo treinados e preparados", completa Fregoneze.

Neide Noffs, coordenadora-geral do projeto da PUC-SP para a formação de professores da educação básica, diz ver uma "dicotomia" entre a formação dos professores e a atuação deles nas escolas.

"O professor deve ter uma formação generalista, como lidar com dificuldades -com a família, por exemplo. Na faculdade, ele é o especialista, mas não tem uma visão geral da escola", afirma Neide. "A escassez é fruto do baixo salário e da desvalorização", completa.

Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, de 03/02/09
Fonte: UDEMO

Um comentário:

Edimilson Motta disse...

A valorização do profissional em educação perpassa não só pela valorização salarial, bem como uma organização da escola e do ensino que seja, de fato, estimulante.
Classes com menos alunos e um currículo menos "inchado" seria uma boa saída.
No entanto, o que temos é falta de segurança e de legislação que obrigue mais a família no acompanhamento dos resultados pelos alunos.

Outra coisa é que, na escola pública, temos uma evasão de bons alunos para a rede particular, ainda incentivada pelo governo, que privilegia essa classe com ressarcimento de imposto. Assim, cria-se uma política separativista e em nada inclusiva, entre uma escola do sucesso e uma escola do fracasso.