domingo, 1 de junho de 2008

Nosso Mestre Paulo Freire


Uma das questões centrais com que temos de lidar é a promoção de posturas rebeldes em posturas revolucionárias que nos engajam no processo radical de transformação do mundo. A rebeldia é o ponto de partida indispensável, é deflagração da justa ira, mas não é suficiente. A rebeldia enquanto denúncia precisa se alongar até uma posição mais radical e crítica, a revolucionária, fundamentalmente anunciadora. A mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação desumanizante e o anúncio de sua superação; no fundo, o nosso sonho”.

(Paulo Freire)


Trajetória do Mestre

Paulo Freire, pernambucano, nasceu em Recife, em 19 de setembro de 1921. De família humilde, teve uma infância marcada por dificuldades econômicas e desde cedo conheceu a pobreza. Foi alfabetizado em casa, por seus pais, escrevendo com gravetos, no chão de terra debaixo das mangueiras do quintal. Como gostava muito de estudar, assim que concluiu a escola secundária, tornou-se professor.

Formou-se em Direito, mas não exerceu a profissão. Optou por se engajar na formação de jovens e adultos trabalhadores e por atuar em projetos de alfabetização. A partir de sua prática, com uma metodologia diferente, criou uma teoria epistemológica que o tornou conhecido internacionalmente.

A partir dos anos 60, desenvolveu uma proposta revolucionária de alfabetização através da qual, para além da mera aquisição da linguagem escrita, a partir da realidade vivencial dos educandos e do diálogo permanente, busca-se a leitura e a compreensão crítica do mundo, para poder transformá-lo.

Essa nova teoria valorizava o universo cultural e vivencial dos educandos, estabelece o diálogo como método e, através dele, a construção coletiva do conhecimento, estabelecendo uma relação “dialógica” entre natureza e cultura, fazendo com que os alunos se percebam como sujeitos e, portanto, construtores de sua própria história.

Dentro dessa perspectiva, a alfabetização é um processo de educação permanente, constituindo-se em instrumento de conscientização que gera projetos de transformação da realidade. Daí, porque, insistia o Professor, o ato de educar é eminentemente político e o fazer pedagógico, necessariamente coletivo. Foram suas atividades no Movimento de Cultura Popular no Recife que inspiraram sua teoria do conhecimento, da qual seu chamado “método de alfabetização” extrapolou os limites do país.

Como conseqüência dessa atuação, foi preso (1964) e exilado. Durante o período de exílio, trabalhou no Chile, com alfabetização de camponeses, nos Estados Unidos, ministrando aulas na Universidade de Harvard, como professor convidado, e depois se fixou em Genebra, na Suíça.

Lá, foi consultor especial do Departamento de Educação do Conselho Mundial de Igrejas, viajando e trabalhando em diferentes países, tornando-se mundialmente conhecido. Com outros companheiros de exílio, fundou o Instituto de Ação Cultural - IDAC e no início dos anos 70 trabalhou na África, especialmente nas ex-colônias portuguesas: Guiné Bissau, Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe. Assessorou campanhas de alfabetização e contribuiu efetivamente para sistematização de programas e projetos educacionais naqueles países.

Em 1980, com a anistia, voltou ao Brasil. Por considerar ofensivas as regras impostas, recusou-se a pedir a reintegração a seu cargo na Universidade Federal de Pernambuco. Passou então a trabalhar como professor na PUC/São Paulo e, em seguida, tornou-se professor da Universidade de Campinas - Unicamp, onde lecionou até o final de 1990.

Em 1989, foi convidado pela Prefeita Luiza Erundina para ser Secretário de Educação do Município de São Paulo. Sua Gestão caracterizou-se por ampla discussão sobre condições de ensino e de trabalho, onde o método “ação - reflexão - ação”, enquanto um processo prático e exigente de Gestão Democrática ia se consolidando; investiu não só na formação permanente dos educadores, mas melhorou as condições de trabalho com uma nova jornada; aprovou o primeiro Estatuto do Magistério da rede municipal de São Paulo; promoveu a revisão curricular via projetos de interdisciplinaridade e uma nova organização do ensino por meio de ciclos.

Fez da Gestão Democrática, nas suas diversas dimensões, uma diretriz política. Com democracia, participação colegiada e construção coletiva tornou-se um marco para a educação na rede municipal.
Com investimento na infra-estrutura, na formação dos profissionais, na democratização do acesso e permanência dos alunos e na gestão escolar conseguiu “mudar a cara da escola” e mostrou que é possível fazer da escola pública um lugar privilegiado de construção de conhecimento, de desenvolvimento de projetos e de inserção social. Reconhecido até pelos adversários, desenvolveu o melhor projeto de formação de professores da cidade de São Paulo.

Depois de deixar a Secretaria de Educação do Município de São Paulo, em 1991, retomou suas atividades acadêmicas publicando diversos livros e fomentando, de forma permanente, a discussão educacional.
O Professor Paulo Freire morreu em 02 de maio de 1997, aos 75 anos, na cidade de São Paulo.

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